voltar

Acalantos
Teresa Poester*

Laura Castilhos experimentou desde gravura, desenho, pintura até a confecção de caixas, objetos e esculturas. Trabalhei com ela em diferentes lugares e situações. Tempos difíceis e esse mesmo frescor em tudo o que faz. Suas aquarelas ainda têm gosto de sorvete: O cachorro, A árvore, O vaso de flores... Nas ramificações que a vida lhe foi proporcionando - como desenhista, ilustradora ou professora - sempre manteve uma tranqüila convivência com o que faz, convivência rara num momento onde os valores são tão incertos. Sempre se recusou a entrar num quadro, numa tendência. O resultado de seu trabalho está impregnado dessa vontade simples de compartilhar o olhar. Seu trabalho revela uma filosofia profundamente coerente com a desmistificação de uma arte eloqüente de origem ainda renascentista. Ela sabe muito bem a que veio e ao que, absolutamente, não veio. Suas aquarelas e desenhos têm, como a poética de Prévert ou de Chagall, a magia que aproxima crianças e adultos. Suas imagens revelam a liberdade na construção de um caminho cujas marcas são esses pequenos objetos, imagens, contos visuais que, contrariando à noção da  pintura destinada a « espaços públicos », no caso de Laura, sempre dão vontade de levar com a gente, acarinhar e « acalantar » as paredes da casa.

No seu trabalho como ilustradora a narrativa visual se impõem de tal forma que não se sabe o que vem antes, texto ou imagem. De uma trajetória considerável como artista plástica resulta essa ilustração tosca, talhada a machado e cheia de uma ternura que vem da inteligência das mãos em intimidade com os mais diversos materiais.



* Teresa Poester

Artista Plástica e Professora do Instituto de Artes da UFRGS
Doutora em Arts Plastiques et Sciences des Arts – Université de Paris 1 – Panthéon - Sorbonne.